Violência e morte são crimes que afetam mulheres por todo o Tocantins. Embora os índices desse tipo de ocorrência tenham apresentado uma leve redução em relação a 2024, o medo ainda é realidade para muitas tocantinenses.
Marcilene Alcântara tinha apenas 23 anos quando foi morta a facadas pelo ex-companheiro em um bar de Araguacema. O relacionamento havia acabado há cinco meses. Durante esse tempo, a irmã da vítima, Marcileide Alcântara, contou que Diego Castro, de 36 anos, fez diversas ameaças. “Foi quando ela abriu os olhos que ela veio ver realmente, ver a pessoa que ele era, e foi tarde demais. Quando ele separou, que ela decidiu sair de vez ela confessou tudo pra gente, que ele batia nela, que a família via e não falava nada”, disse a irmã.
A jovem deixou um filho de três anos, fruto do relacionamento com o agressor. Com a separação, Marcilene focou em reconstruir a vida, mas não houve tempo para ela realizar os sonhos. “Eu nunca tinha visto a minha irmã tão feliz igual ela estava. No dia mesmo do assassinato dela tido mundo disse que ela estava muito feliz, tão linda e sorridente, conversando com todo mundo. Parecia que era uma despedida”, comentou a irmã.
O ex-companheiro foi preso em flagrante e está na unidade penal de Paraíso. O julgamento por júri popular está marcado para o dia 13 de maio. A Defensoria Pública, que faz a defesa dele, não se manifestou sobre o caso, mas firmou que todos os assistidos têm direito a um “julgamento justo, com respeito à ampla defesa e contraditório” (veja nota abaixo).
No Tocantins, somente em 2024, foram 13 casos de feminicídio e 63 tentativas, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP).
Entre janeiro e abril desse ano, ocorreram cinco casos de feminicídio e 16 tentativas. É uma leve queda em relação ao mesmo período do ano passado, que teve sete feminicídios. Mesmo assim, para especialistas, os números são preocupantes, pois tratam-se de vidas perdidas ou afetadas pela violência.
“O medo já existe na nossa sociedade, nós estamos hoje em um momento que as pessoas têm medo de tudo. Quando sofrem a violência, esse medo triplica. Então o impacto é de adoecimento mesmo, as pessoas podem adoecer e passar a ter problemas e com necessidade de tratamento psiquiátrico, psicológico”, comentou a psicóloga Márcia Modesto.
Filha desaparecida
Além de levar a vida das vítimas, a violência também afeta quem fica, que precisa lidar com a dor do luto. Assim passaram a ser os dias da Aldener Mendes Sousa, mãe de Míria Mendes Sousa Lima, de 19 anos, desaparecida desde agosto de 2023. O suspeito pelo desaparecimento da jovem é Adair Gonçalves, de 53 anos, ex-companheiro dela.
A defesa de Adair Gonçalves, em nota, manifestou “indignação e surpresa com o indiciamento do nosso constituinte, destacando a desnecessária espetacularização do caso” (veja íntegra abaixo).
Medidas protetivas podem ajudar
As medidas protetivas expedidas pela Justiça estão entre as ferramentas que podem ajudar a garantir a segurança dessas vítimas de violência, mas isso nem sempre acontece.
Esse ano foram registrados 204 descumprimentos de medidas protetivas de urgência aqui no estado. Em todo o ano passado, esse número chegou a 758.
“A pessoa que descumpre, ela pode ser presa em flagrante. Mas também pode, esse descumprimento, ser causa de decretação de medida cautelar de prisão preventiva”, explicou o delegado Israel Andrade, que afirmou que a pena em caso de condenação pode chegar a 40 anos de prisão.
O Ministério Público do Tocantins informou que, em relação ao caso da vítima Miria Mendes de Sousa, o caso está em segredo de Justiça e que a Polícia Civil enviou denúncia para análise do MP nesta quinta-feira (24).
Em relação ao caso de Marcilene Alcântara, o Ministério Público do Tocantins informou que a sessão do Tribunal do Júri para o julgamento do réu ocorrerá dia 13 de maio de 2025, na Comarca de Araguacema.
Íntegra da defesa de Adair Gonçalves
A defesa manifesta indignação e surpresa com o indiciamento do nosso constituinte, destacando a desnecessária espetacularização do caso, que tramita desde o início em segredo de Justiça, mas tem cada andamento reportado em tempo real à mídia, talvez com o objetivo de atrair protagonismo a quem não conseguiu elucidar um suposto crime mesmo após mais de 2 anos de investigação. A equipe de defesa reforça que serão empenhados esforços para comprovar a inocência de Adair.
Íntegra da defesa de Diego Castro
A Defensoria Pública do Estado do Tocantins foi indicada automaticamente para a defesa da pessoa citada pela reportagem em razão de ele não ter constituído advogado(a) para seu processo.
A Constituição Federal exige que toda pessoa processada tenha uma defesa técnica e a Defensoria Pública atua para garantir aos seus assistidos um julgamento justo, com respeito à ampla defesa e contraditório.
Fonte: G1 Tocantins